Mercado local recua com tarifas dos EUA e juros altos, enquanto NY avança com negociações
Durante o mês de julho de 2025, a bolsa de valores brasileira apresentou forte queda. O IBOV recuou 4,17%, encerrando o período em 133.071 pontos. Os índices setoriais também tiveram desempenho negativo: o ICON, que representa as empresas do setor de consumo, caiu 8,83%, enquanto o IFNC, que reflete as empresas do setor financeiro, recuou 7,91%. Além disso, o índice que acompanha os fundos de investimento imobiliário (IFIX) também registrou retração no mês de 1,36%, fechando em 3.436 pontos.
Já as bolsas americanas apresentaram um desempenho positivo: os três principais índices de ações encerraram o mês em alta: Nasdaq avançou 3,70%, S&P500, 2,17% e o Dow Jones registrou leve ganho de 0,08%. O bom desempenho foi puxado principalmente pelas negociações das tarifas entre os EUA e outras economias desenvolvidas, como a União Europeia e o Japão.
Ticker | jan/25 | fev/25 | mar/25 | abr/25 | mai/25 | jun/25 | jul/25 | No ano | Fech. |
DJIA | 4.70% | −1.58% | −4.20% | −3.17% | 3.94% | 4.32% | 0.08% | 3.73% | 44130.9 |
Nasdaq | 1.64% | −3.97% | −8.21% | 0.85% | 9.56% | 6.57% | 3.70% | 9.38% | 21122.4 |
SP500 | 2.70% | −1.42% | −5.75% | −0.76% | 6.15% | 4.96% | 2.17% | 7.78% | 6339.3 |
Fonte: DataBay, navigate the ocean of financial data
Ticker | jan/25 | fev/25 | mar/25 | abr/25 | mai/25 | jun/25 | jul/25 | No ano | Fech. |
IBOV | 4,86% | −2,64% | 6,08% | 3,69% | 1,45% | 1,33% | −4,17% | 10,63% | 133071 |
IBXX | 4,92% | −2,68% | 5,94% | 3,33% | 1,70% | 1,37% | −4,18% | 10,42% | 56276,7 |
IBXL | 4,82% | −2,79% | 5,96% | 2,55% | 1,26% | 1,46% | −3,93% | 9,29% | 22307,2 |
IDIV | 3,50% | −2,78% | 5,52% | 3,88% | 1,31% | 1,76% | −2,97% | 10,33% | 9748,87 |
BDRX | −4,23% | −2,80% | −9,44% | 0,21% | 7,94% | 1,55% | 6,15% | −1,70% | 23445 |
SMLL | 6,11% | −3,87% | 6,73% | 8,47% | 5,94% | 1,04% | −6,36% | 18,38% | 2088,2 |
IFIX | −3,07% | 3,34% | 6,14% | 3,01% | 1,44% | 0,63% | −1,36% | 10,27% | 3436,3 |
IFNC | 10,83% | −3,11% | 9,08% | 9,27% | 1,56% | 1,52% | −7,91% | 21,53% | 14376,0 |
ICON | 1,87% | −5,51% | 12,27% | 12,67% | 2,37% | −1,78% | −8,83% | 11,63% | 2714,3 |
Fonte: DataBay, navigate the ocean of financial data
Entre os fatores que mais pesaram sobre o mercado brasileiro em julho foi a nova rodada de tarifas comerciais impostas pelo governo norte-americano de Donaldo Trump. Além da tradicional preocupação com juros altos e inflação interna, investidores passaram a precificar um cenário externo mais hostil para as exportações brasileiras.
De acordo com um estudo recente do Centro de Estudos de Negócios Globais da FGV – disponível neste link -, que cruzou dados das importações americanas com as exportações estaduais brasileiras em 2024, a tarifa média ponderada que os exportadores nacionais terão de pagar para acessar o mercado americano sofreu um aumento expressivo.
O levantamento mostra que, na média nacional, essa tarifa passou de 2,2% (antes de 2 de abril, dia que ficou conhecido como Liberation Day Tariffs) para 33% após o anúncio do tarifaço. Já na média simples, que desconsidera a influência dos fluxos comerciais, o avanço foi de 3,9% para 49%. O impacto varia entre os estados, mas em muitos casos representa um entrave significativo à competitividade de setores industriais e agrícolas.
Esse redesenho das tarifas adiciona incerteza ao fluxo cambial e ao crescimento econômico brasileiro, reforçando um ambiente de cautela. Para os investidores, o resultado foi um ajuste nos preços dos ativos domésticos ao longo do mês, com destaque para a desvalorização da bolsa e a queda no mercado de fundos imobiliários.
Além das pressões externas, julho também trouxe um sinal importante no front doméstico: o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a Selic em 15,00% ao ano. A decisão veio acompanhada de um comunicado firme, que deixou claro que a combinação de inflação resistente e incertezas fiscais exige paciência e uma política monetária contracionista por mais tempo do que o mercado vinha antecipando.
Ao mesmo tempo em que a desaceleração da atividade começa a aparecer em alguns indicadores, a inflação de serviços e os núcleos continuam pressionados, o que dificulta qualquer movimento mais rápido de flexibilização.
A curva permaneceu inalterada comparada ao mês anterior na parte curta, refletindo a percepção de que os cortes devem começar a ocorrer mais à frente, provavelmente no primeiro semestre de 2026. Nos vértices mais longos, a inclinação aumentou levemente, em um movimento de cautela que combina os riscos domésticos, sobretudo fiscais, com a incerteza externa alimentada pela guerra comercial com EUA.
Esse cenário reforçou o movimento de ajuste de preços que já vinha afetando os ativos brasileiros ao longo do mês. Em um ambiente de juros altos prolongados, ativos de risco ficam pressionados, enquanto a renda fixa passa a ser mais atrativa, favorecendo a busca por segurança e explicando a queda recente da bolsa de valores.
Para os próximos meses, o mercado aguarda uma solução para a guerra comercial com os EUA. Além disso, enquanto não houver sinais claros de desaceleração da inflação, especialmente nos núcleos, e de melhora nas contas públicas, os prêmios de risco devem permanecer elevados, sustentando a aversão a risco e uma postura mais defensiva dos investidores.
Diante desse cenário, o mercado segue em compasso de espera, pressionado por tensões externas, novas tarifas do governo Trump e política monetária restritiva nos EUA e por um quadro doméstico de juros altos, inflação persistente e incertezas fiscais. Essa combinação reduz o apetite por risco, dificulta a captação de recursos pelas empresas e direciona investidores para ativos conservadores.
Até que haja alívio em alguma dessas frentes, seja uma trégua nas disputas comerciais ou uma melhora no quadro fiscal e inflacionário, a volatilidade na bolsa de valores brasileira deve continuar predominando.